quinta-feira, 12 de março de 2009

CURITIBA

Dois meses depois, deu-se por encerrado o tratamento com a radioterapia, o qual não foi eficaz. Em conversa com o médico perguntei se não havia outro tratamento, aqui em Maceió ou em outro centro mais desenvolvido; ele viu que eu desistira, e me indicou fazer um Tratamento Fora do Domicilio, precisamente no Hospital da Clinicas em São Paulo.
Novamente a Gil tomou a frente de tudo, primeiro foi ao órgão do governo que providenciava o tratamento, e depois saiu pedindo aos amigos, vizinhos e conhecidos que nos ajudasse financeiramente para essa viagem. Muita gente nos ajudou, pessoas que nem conhecíamos colaborou, rifas foram feitas, o pessoal tanto da igreja católica como evangélica ajudaram. Mas quando fui chamado para fazer o tratamento fora de Maceió veio a surpresa: não era para São Paulo, e sim para Curitiba que me enviaram. Assim mesmo ficamos felizes, pois estávamos indo para uma capital que era modelo em tudo para outras capitais, e quem sabe não era lá que estava minha cura.
Chegou o dia da viagem e estavamos com tudo preparado. O Pastor Antonio da IBB, entrou em contato com o pessoal da igreja batista de Curitiba e eles enviaram um rapaz para nos receber no aeroporto. Ao desembarcarmos na capital paranaense uma surpresa: Nossa bagagem ( inclusive a cadeira de rodas ) ficou em Salvador, onde o avião fizera conexão. Mas maior supresa foi minha reação, pois fiquei tranquilo e ouvi as explicações do representante da empresa aerea. Ele nos disse que nossa bagagem seguiria para o hotel onde ficariamos hospedos. Seguimos então para o saguão do aeroporto onde nos encontramos com o rapaz que nos esperava, o mesmo foi superatencioso e nos levou até o hotel ELO, ao ver o nome do hotel pensei que poderia ser um aviso; pois ELO é as inicias do meu nome: Edson Luis de Oliveira.
Surpertições de lado, as coisas estavam indo bem, o hotel era ótimo e o frio que penssavamos que estaria em Curitiba não houve e a noite as nossas bagagem chegaram, inclusive a cadeira de rodas.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A CONVERSÃO

pg.08

Após o diagnostico, o meu médico me indicou fazer um tratamento a base de radioterapia, para combater o tumor que se encontrava no osso do ilíaco direito. Antes disso eu ainda teria que ficar mais uns quinze dias interno, para me recuperar, pois a radioterapia é muito forte e eu iria sofrer muito com o tratamento.
Os dias se passaram e nada mudou, continuei do mesmo jeito. Até que tiveram que me dá alta assim mesmo, pois já fizera quarenta e dois dias que me encontrava no hospital, e meu caso já não poderia ser tratado lá. Voltei para casa.
Como foi bom sair daquele hospital, eu sabia que fora dele eu teria mais chances de piorar; mas era uma sensação maravilhosa ver a rua, o céu, os carros nas avenidas, pessoas apressadas indo de um lado pro outro. Ao chegar à casa muitas pessoas vieram me visitar; inclusive algumas pessoas da igreja quiseram rezar o terço. Durante as orações notei que a Gil estava apreensiva, e com um gesto perguntei o que estava acontecendo, ela balbuciando disse que o problema era com o Gustavo, que se encontrava com uma febre muito alta, esperei que as pessoas fossem embora e fui até a cama, e com a mão sobre sua cabeça fiz uma oração exigindo que aquela febre fosse embora no nome de Jesus. E logo a febre cessou as pessoas da família que presenciaram este fato, disseram que era apenas uma febre emocional, e que ao chegar perto dele a febre passou. Pode até ter sido uma febre emocional, mais eu creio que ela foi embora porque pronunciei o nome de Jesus. Afinal eu aprendi que o nome de Jesus tem poder, e foi crendo nisso que falei seu Nome.
No outro dia estávamos na Santa Casa de Maceió para começar-mos a radioterapia; eu digo começar-mos porque onde eu estava a Gil também estava e parecia que éramos um só, sofrendo tudo aquilo.
Entrei na sala e vi aquela imensa maquina onde me puseram, parecia que estava entrando numa nave espacial. Começou a seção de radioterapia, e não senti nada de anormal. Pensei comigo ”será que isso vai servi pra alguma coisa?”.Terminada a cessão, teríamos que ir três vezes por semana para continuar o tratamento. No dia seguinte comecei a sentir náuseas e ânsia de vomito. Diseram-me que era o efeito da radio; e que não me preocupa se. Quanto mais o tempo passava, mais eu piorava, por conta da situação que eu me encontrava ficava o dia todo na cama, comecei então a ler a Bíblia e assistir programas evangélicos na tv. Foi nessa época que começaram a freqüentar a minha casa, evangélicos de varias denominações, pediam para orar por mim e eu aceitava e os recebiam no meu quarto, pois já não conseguia sair da cama pra cadeira de rodas com tanta freqüência.
Numa dessas visitas entrou um grupo de uma igreja do bairro e conversaram bastante comigo, achei aquelas pessoas bastante sinceras, e mais, não notei no semblante deles um ar de pena para comigo como os outros faziam, Eles estavam ali de forma diferente, era como se tivessem convicção da minha melhora. Noutro dia um senhor que morava vizinho a nossa casa pediu pra falar comigo, mandei que o deixassem entrar, ele também era evangélico e queria orar por mim, eu prontamente aceitei. Ao termino da oração ele me perguntou se eu gostaria de aceitar Jesus como meu único e suficiente Salvador.
Durante a minha vida cristão-católica eu achava aquela pergunta um tanto pretensiosa. Achava que os crentes faziam esta pergunta para diminuir a religião católica. Mas naquele instante algo se tornou diferente, aquela pergunta entrou pelos meus ouvidos e foi parar no meu coração, a palavra único, tinha um significado sublime. Então entendi que não existe outro nome a quem eu deveria me submeter a não ser ao de Jesus. Respodi aquela pergunta com um sonoro SIM.
No dia seguinte minha mãe veio me visitar, sentou-se a beira de minha cama, conversamos um bocado, então resolvi dizer-lhe o que aconteceu; e meio que enrolando pedi que ela leva-se o quadro que se encontrava na parede da sala para casa dela. Ela então perguntou: O quadro de N.S. de Fátima? Eu respondi: sim ele mesmo. Nesse momento vi seu semblante mudar, era uma decepção muito grande pra ela, afinal, éramos orgulhosos de nossa religião, e não admitíamos que estávamos errados. De repente ela levantou-se e disse que não iria levar o quadro, e que eu estava fazendo isto porque estava doente. Procurei então não discutir e fiquei calado, mas ela sabia que eu estava decido e não iria mudar minha decisão.
Os fatos que se seguiram me deixaram muito triste as pessoas que eram próximas de mim afastaram-se, mesmo sabendo que eu me encontrava bastante doente e precisando delas. Parecia que elas admitiam qualquer coisa, menos que eu mudasse de religião. Isso era estranho para mim, pois eu não deixei de ser cristão e sim estava procurando ter um conhecimento maior de Jesus. Pois eu lia a Bíblia, e nela está escrito em João 14.6 “Eu sou o caminho a verdade, e a vida. Ninguém vem ao pai senão por mim.” Estas palavras e muitas outras, contradiziam com o que era pregado pelo padre na igreja e isto me deixava confuso. O Senhor Jesus estava sendo muito claro quando disse estas palavras; e esse foi um dos motivos que eu resolvi segui-lo. Claro que a doença fez com que eu me aproximasse mais dele, e hoje eu até agradeço a Deus por isso. Mas com certeza esse não foi o maior motivo. Eu creio que quando eu lia a Bíblia e comparava o que era dito pelo padre, ali já estava havendo uma mudança em minha vida.
Resolvi então procurar uma igreja evangélica a qual eu pudesse congregar, e lembrei daquele grupo que viera me visitar a alguns dias, decidi fazer uma visita à igreja deles. No domingo pedi que a Gil me arrumasse para irmos a Igreja Batista Betânia. Seguimos então eu, ela e o Gustavo, e ao entrarmos na igreja fomos recebidos com muito carinho pelos membros, e todos nos saudavam com “Graça e a Paz”. Senti-me tão bem naquele ambiente que decidi que era ali que eu ira congregar. Íamos esporadicamente a igreja, pois eu estava sempre debilitado e sem condições físicas de estar presente aos cultos.



C0ntinua...

sábado, 17 de janeiro de 2009

DE VOLTA A UTI

pg. 07

No dia 25 nada de tão importante aconteceu, devido a medicação eu passei o dia todo dormindo, mais a Gil me contou que na noite anterior ela tomou um baita susto e viu a realidade de estar na UTI de um hospital, um paciente faleceu ali perto, diante de seus olhos, mas nada disso nos abalava, pelo contrario, dava mais força para continuar-mos lutando, eu pela vida e ela por mim.
Passou-se o fim de semana e na segunda feira, fui transferido para o quarto, recebi visitas de varias pessoas, amigos preocupados comigo. Realmente quase que eu tinha ido, mas não foi daquela vez. O problema da respiração fraca continuava,e com o começo de pneumonia, o pulmão estava bastante comprometido. Foi solicitada a visita de um pneumologista para avaliar o meu caso; recordo-me que era noite de domingo quando ele veio me ver. Esse médico me fez perguntas, sem sequer chegar perto de mim; deixava transparecer que estava com medo de infecção ou coisa parecida. Disse-me que eu teria que fazer um exame chamado Broncoscopia, tentou me explicar o que seria isso; dizendo que iria introduzir um pequeno tubo em meu nariz, até o pulmão; lá chegando retiraria um fragmento ( pedaço) do pulmão para analise. Após esta explicação foi embora, e eu fiquei no quarto pensando “O que está faltando agora?”.
No dia seguinte ás cinco horas da manhã, entra no quarto o mesmo negão de sempre com a mesma pergunta “Senhor Edson?” “exame de sangue”. Surpreso com a sua chegada eu perguntei o porquê daquele exame e quem solicitara. Ele me respondeu que quem solicitou foi o pneumologista e que o exame era pra HIV. Isso me deixou irritado, pois ele não procurou saber o que eu tinha direito e já tinha tomado as suas próprias conclusões. Disse então que não ria fazer o exame e podia dizer ao tal médico que se eu tinha Aids, eu tinha pegado com a mãe dele; pois já tinha feito este exame varias vezes e nada foi constatado.O rapaz foi embora sem dizer nada, apenas balançou a cabeça de forma afirmativa.
Poucas horas depois vieram me buscar para fazer a tal Broncoscopia; ainda chateado com a atitude do médico disse que não iria fazer. A enfermeira chefe conversou comigo tentando me convencer a fazer o exame pois era pro meu bem, depois de muita insistência acabei cedendo e segui para a sala do exame.
Chegando a sala do exame notei que tudo era improvisado, e que não era o tal médico que iria fazer o exame, e sim sua esposa, que também era médica. Feito os procedimentos, ela introduziu um tubo na espessura de uma caneta em meu nariz, que consistia em levar uma microcamera até o meu pulmão. Até aí tudo bem, de repente ela retirou o tubo e resolveu colocar de novo; só que minhas narinas estavam obstruídas devido a pomada anestésica que ala tinha posto minutos antes, e ao tentar refazer todo o procedimento comecei a passar mal, e tive outra parada cardio-respiratória. Fui novamente levado a uti, mas dessa vez me recuperei rápido.
Muitas outras coisas aconteceram desde então, mas não esqueço os momentos terríveis que passei na uti; era como se cada vez que entrava e saia de lá , estava apenas adiando o inevitável. Mas duma coisa eu tinha certeza parecia que eu voltava com mais vontade de viver.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O NATAL

pg. 06

Era dia 24 de Dezembro, véspera de natal, e enfermeiros e médicos estavam preparando-se para a ceia ali mesmo, virei o rosto de lado para não ver a felicidade deles e acabei vendo uma poltrona larga e confortável ao meu lado... foi quando subitamente tive uma ideia chamei o médico plantonista Dr. Léo e disse-lhe nestas palavras: Doutor? O senhor já teve alguém que lhe amasse muito, mais muito mesmo? Uma pessoa que fosse capaz de tudo por você? Ele parou, pensou por um instante e respondeu: acho que não. Então continuei: Eu tenho... a minha esposa. Queria pedir-lhe que deixasse ela passar essa noite aqui, naquela poltrona. Ele então me falou: eu até poderia, mais ela não está aí, ela foi embora. Fiz um novo pedido: o senhor poderia me emprestar o seu celular para falar com ela? Ele prontamente atendeu.
Então ligamos pra Gil, o doutor segurando o celular para que eu falasse:
- Alô, nêga?
-Quem está falando? Disse ela.
-Sou eu. Respondi
- Edson! é você mesmo! Você saiu da UTI?
- Não, continuo aqui; é que liguei pra te dizer que se você quisesse poderia ficar aqui comigo o médico deixou.
-Ah! Então eu vou praí, e é agora!
- Não, não precisa, amanhã agente se vê.
- Chego já. E desligou o telefone.
Parece incrível que depois de tanto tempo ainda me lembro desse dialogo, mais foi exatamente assim. Meia hora depois ela estava ao meu lado. O Dr. Léo olhou fixamente para mim e disse: É verdade, Ela te ama mesmo!
Passamos a noite conversando, ela mais do que eu claro. Falou-me de muitas coisas, mais eu não prestava atenção, só pensava que Deus tinha me abençoado por ter uma mulher tão maravilhosa do meu lado e ao mesmo tempo agradecia muito a Ele por isso. Algumas horas depois ela cansou e adormeceu naquela poltrona. E olhando pra ela pensei “esse é o melhor natal da minha vida”.


Continua...

domingo, 11 de janeiro de 2009

A UTI

pg. 05

No dia 22 de Dezembro de 2004, estavam me preparando para a tomografia, tudo estava muito bem, minha mãe e o Fazendeiro (meu padrasto) estavam no quarto esperando o término do exame, a Gil acompanhou-me até a sala, lá chegando tive uma surpresa, o rapaz que iria fazer a tomografia era um ex colega de cursinho, fiquei bastante feliz ao revê-lo. Colocaram-me na mesa e a Gil ficou do meu lado.
As 17hs começaram o exame, após alguns minutos senti uma ligeira falta de ar, mas não tomei nenhuma atitude, deixei que prosseguisse normalmente. Quando foi ejetado o contraste, alguma coisa de muito errado estava acontecendo, eu não conseguia respirar de jeito nenhum, fiquei desesperado! Pedi através de gesto para que me tirassem dali, rapidamente as pessoas que lá se encontravam me socorreram, mas naquele momento eu senti que tinha chegado o meu fim, olhei para minha mulher e como num ultimo ato disse-lhe: Nêga...eu te amo, nunca esqueça disso.Após pronunciar estas palavras eu tive uma parada cardíaca e fui levado as pressas para a UTI. As pessoas da minha família se desesperaram, minha mãe que já estava andando com dificuldade, saiu às pressas do quarto, quando soube do acontecido, e foi até onde eu estava. Acredito que todos esperavam que a qualquer momento isso pudesse acontecer, pois no estado vegetativo em que eu me encontrava; a morte já era uma coisa natural.
As 11:30hs do dia 23 de dezembro de 2004 acordei na Uti do hospital do Açúcar, cheio de aparelhos e com um tubo que entrava pela minha boca até o pulmão para que eu pudesse respirar melhor.Assim que abri os olhos senti uma paz que há muito não sentira e compreendi o que acontecera de imediato; apesar de não poder falar por motivo do tal tubo na boca, os enfermeiros pediram-me para confirmar se meu nome era Edson, respondi com a cabeça que sim, perguntaram também se eu lembrava do que tinha acontecido, novamente respondi sim. Depois fiz um gesto com a mão para escrever, eles me entenderam e trouxeram-me uma caneta e um papel, e escrevi: Que dia é hoje? Eles me responderam, então percebi que fiquei desacordado por menos de 24hs, na realidade exatos 18 horas e trinta minutos. De repente vejo um rosto conhecido entrar sorrindo, era a Renildes, uma vizinha nossa e também enfermeira do hospital, perguntou-me se estava tudo bem, respondi que sim, e com o papel e caneta perguntei pele minha mãe, ela me respondeu que estava esperando na porta. Senti um alivio, pois o que mais me preocupava era o estado de saúde dela.
Pouco tempo depois retiraram o tubo da minha boca, foi uma sensação horrível, mas nada que eu não pudesse suportar, afinal já tinha passado por coisas piores. As enfermeiras foram muito atenciosas comigo, deram-me um banho e fizeram a minha barba; às 14 horas começou as visitas, a primeira a entrar foi a Gil, apesar de estar sorrindo seu rosto indicava que ela tinha passado a noite toda chorando, porém, ela tentava disfarçar. Logo depois entrou minha mãe, que parecia mais firme do que eu pensava que ela podia estar; algum tempo depois ela me confidenciou que em nenhum momento ela achou que eu iria morrer, pois me considerava um forte, um vencedor!
Seguiram-se as visitas: Fazendeiro, Cícera (tia), Simplicio (amigo), alguns não puderam ou não quiseram entrar, mas ficaram na porta da UTI, orando por mim.

Continua...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O CASAMENTO

pg. 04

Foi nessa época que minha mãe começou a ficar doente também, o diabetes com que ela vivia há anos, foi aumentando e segundo os médicos era emocional, ou seja, tudo levava a crer que era por minha causa.
No dia 13 de Novembro de 2004, eu e a Gil nos casamos na Igreja Virgem dos Pobres, aqui mesmo no bairro. Foi uma celebração coletiva mas que pra nós foi única. Depois da celebração, fomos comemorar com os amigos mais chegados na nossa casa. Apesar de tanto sofrimento estávamos realmente felizes, era um momento que jamais iríamos nos esquecer. Mas a doença não dava trégua, e eu sentia que o fim estava próximo.
No mês seguinte precisamente no dia 07 de dezembro casamos no civil, pronto,eu estava preparado para partir. Só pensava em desfrutar com a minha família os últimos momentos de vida que me restavam. Os dias passavam lentamente e eu estava de fiando muito rápido, não tinha forças pra mais nada, nem mesmo pra pegar uma caneta nas mãos, minha esposa é que fazia tudo pra mim, foi quando um dia a minha sogra me disse que eu deveria lutar, pois as pessoas um dia se cansariam de fazer as coisas por mim. Passei algum tempo pra entender o que ela quis dizer com aquilo, e até hoje confesso que não sei, talvez fosse querendo me dar animo ou deixar subtendido que a Gil não tinha que esta vivendo só pra mim e que deveria viver a vida dela. Resolvi que se era uma provação de Deus então eu estava disposto a passar por ela lutando com todas as forças que me restavam.
Foi quando por intermédio do Sr. Lucas, um rapaz que trabalhava na escola, fui levado a conhecer o Dr. Fernando Gameleira que prontamente quis me ajudar, reconhecendo que não podia diagnosticar com facilidade a doença, ele resolveu internar-me em um hospital para fazer toda espécie de exames, notei que o Dr. Gameleira era diferente de todos os outros por quem havia passado.
Não me lembro bem o dia, mas foi neste mesmo mês(dezembro) que dei entrada no Hospital do Açúcar, e começou uma bateria de exames comigo; todo dia cinco horas da manhã chegava um negão com uma maleta e dizia: “Senhor Edson? Exame de sangue”. Era quase uma tortura; mas eu não reclamava, eu sabia que era para o meu bem.
Conheci muita gente interessante, um deles foi o meu colega de quarto Laércio, um rapaz que sofrera um acidente e estava a um mês internado, a minha família e a dele tornaram-se grandes amigas, ele me incentivava a continuar lutando e nunca desistir. O mesmo eu fazia com ele.
Os exames continuavam: Raios X de todo corpo, Biopsia, eletrocardiograma, ecocardiograma, ultra-som, ressonância magnética entre vários. E eu continuava piorando, mas desta vez não ficava abatido, brincava o tempo todo com os médicos, enfermeiros e outros pacientes, ninguém me via triste, estava sempre sorridente.
Apesar das brincadeiras pra descontrair, às vezes eu ficava triste ao ver a Gil se esforçando tanto para cuidar de mim, dormindo em uma cadeira, acordando nas madrugadas para me socorrer, as pessoas da família também percebiam, foi quando minha mãe mandou o meu filho mais velho Felipe ficar os fins de semana no lugar dela. Num desses finais de semana eu tive um inicio de parada respiratória e vi o Felipe sair correndo pelo corredor do hospital, pra chamar os enfermeiros de plantão. Hoje lembrando disso vejo quão pesada foi a carga para aquele garoto de 16 anos levar, o pai poderia ter morrido em seus braços, realmente ele estava se tornando um homem naquele dia.
O natal estava se aproximando e eu não queria ficar no hospital, queria passar as festas em casa junto a minha mãe, que já estava bastante doente, e a todos da família como era tradição nossa. Sempre que o doutor chegava, eu perguntava quando ele iria me dar alta, ele me respondeu que faltava apenas um exame para ter a certeza da doença pois ele já tinha quase diagnosticado. Faltava uma tomografia computadorizada


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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

BUSCANDO A CURA A TODO CUSTO

pg. 03

Meu pai me ligou, e perguntou se poderia me ver, eu disse que sim, então ele veio me visitar, conversamos bastante, mas ele estava constrangido pois ao lado da minha casa morava a minha mãe e meu padrasto, isso causava um certo desconforto, mais eu lhe disse que a casa era minha e ele poderia vir a hora que quisesse.Confiante nas minhas palavras ele começou a freqüentar a minha casa ; isso deixava meu padrasto irritado, mas eu tentei ainda contornar a situação e disse-lhe que não era necessário tudo aquilo pois meu pai estava separado da minha mãe a trinta e cinco anos, e na sitaução que eu me encontrava eu não poderia desprezar ninguém, disse-lhe ainda que o amava como meu pai.
Depois disso a fera amansou por uns dias e pude ver a família unida novamente. Meu pai querendo de alguma forma ajudar me veio com uma proposta terrível, mas que pra ele poderia ser a solução “ir a um terreiro de macumba”. Desconversei na hora dizendo-lhe que não dava, pois era católico e não concordava com aquelas praticas!, todas as vezes que vinha me visitar ele tocava no assunto, até que cansado da sua insistência e vendo que eu estava piorando mais e mais eu aceitei. E numa noite ele veio me buscar para irmos ao tal “terreiro”,fomos eu,ele a Gil e o tio João(irmão dele), ao entrarmos no local, fechei os olhos e fiz uma rápida oração “ Meu amado e querido Deus perdoa-me por encontra-me neste lugar, meu corpo pode estar, mas o meu coração estará contigo”. O pai de santo começou a fazer os “trabalhos” e eu fechei novamente os olhos para não ver aquela cena, mais era inevitável, durante um desses trabalhos ele pegou uma galinha e a matou, retirou seu sangue, abriu-lhe ao meio tirou seu coração e o pôs em minhas mãos; o coração ainda batia, eu nunca tinha visto uma coisa daquela! Chorei alucinadamente e prometi nunca mais entrar em um lugar daqueles.
Novamente fui em busca de outro médico que pudesse me dar respostas concretas para o que estava acontecendo comigo, foi ai que conheci a Drª. Lucia Helena; mesmo sem saber diagnosticar qual a doença, ela resolveu tratar-me com um medicamento muito forte, fiquei internado durante uma semana no hospital Arthur Ramos, só para tomar esta medicação, que consistia em dez ampolas por dia durante cinco dias. Ao termino da primeira semana eu fiquei bastante debilitado; magérrimo, com dificuldade para falar e respirar. Parecia que a medicação piorara o quadro, sem conseguir dormir eu e a Gil passávamos varias noites em claro e quando conseguia cochilar, faltava ar e tinha que ficar sentado. Levamos o acontecido a doutora, que disse que eu deveria ter ao lado da minha cama um cilindro de oxigênio, através das pessoas da escola conseguimos alugar o cilindro. No mês seguinte voltei para fazer novamente o tratamento, mas não cheguei a terminar, devido ao medicamento fiquei intoxicado.
Voltei para casa me sentido pior do que antes, sem conseguir falar e sem conseguir respirar. Foi quando tomei uma decisão, que confesso se não tivesse adoecido jamais eu faria, resolvi casar com a Gil. Apesar de vivermos juntos há doze anos, casar era uma palavra que não existia no meu dicionário; mas como as coisas estavam, certamente eu iria morrer e não queria deixar ela e o Gustavo(nosso filho) desamparados, pois acreditava que com a minha morte eles não teriam direito a nada.

Continua...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

DA MULETA PRA CADEIRA

pag. 02

As coisas iam de mal a pior, as dores nas pernas eram constantes; inúmeras vezes eu gritava de dor e isso deixava aflitas minha mãe e minha esposa que já não sabiam o que fazer. Aconselhado pelos médicos fui fazer fisioterapia; assim que cheguei à Hidroclinica (ainda andando), fui indicado pelo Dr. Celso a fazer um tratamento para aliviar as dores, após algum tempo estava na piscina fazendo hidroterapia; um fato que não esqueço foi que a pesar das dificuldades em andar, na água era mas fácil a locomoção, mas certo dia a fisioterapeuta que mim acompanhava a Drª. Cléa , assim como eu, percebemos que eu já não conseguia sair do lugar, de cabeça baixa pra ela não ver, comecei a chorar; ao levantar a cabeça notei que ela também chorava.
Vendo a situação em que me encontrava muitas pessoas se sensibilizaram, uma delas foi a Fátima diretora da escola em que eu trabalhava, vendo a realidade do que estava acontecendo, mas sem me magoar, me ofereceu um par de muletas, a principio eu não queria, mas as circunstancias me obrigava a aceitar. Não durou muito, já não conseguia andar com as muletas; então me trouxeram um andador, até ai tudo bem, mais as coisas iriam piorar.
Certa manhã tentei me levantar apoiado no andador mais não consegui, comecei a chorar. Aliás, chorar era minha rotina; não suportava que logo comigo esta Doença viera acontecer; eu que trabalhava, nunca fizera mal a ninguém, me considerava um bom filho, um bom marido e um bom pai. Porque eu? Está era a pergunta que não saia da minha cabeça. No outro dia a Fátima veio me visitar e trouxe algo que me aterrorizava “a cadeira de rodas”, desesperado não quis aceitar, mas ela e minha mãe me convenceram que era por pouco tempo, então sentei pela primeira vez naquela cadeira. O que eu mais temia aconteceu, estava impossibilitado de andar.
Realmente as coisas estavam tomando um rumo totalmente diferente do que eu havia planejado pra minha vida, meu pai que alguns anos depois que eu nasci se separou da minha mãe resolveu se aproximar de mim, eu estava pronto a recebê-lo, pois o clima com o meu padrasto já não estava bem, devido a uma atitude que ele fez em que senti um desprezo da sua parte. Explico: não me lembro bem em que dia foi, apenas lembro que eu estava deitado na cama, quando comecei a passar mal, não conseguia respirar o desespero tomou conta de mim, apenas conseguia falar algumas frases, chamei pela Gil que vendo aquela cena também se desesperou e chamou a minha mãe, ela por sua vez percebendo que a situação era gravíssima pediu para que o meu padrasto me socorresse ao Pronto Socorro enquanto esperávamos por ele o meu estado piorou pedi que me tirassem dali rápido, e Gil não pensou duas vezes me pegou no colo colocou-me numa cadeira e saiu puxando até a varanda, não sei a onde ela foi buscar tanta força pra isso, só encontro uma explicação “Deus” só pode ter sido Ele que deu força a ela. Enquanto isso o meu padrasto foi escovar os dentes, vestir outra roupa e terminar de rezar o terço em que ele tinha começado. Não foi preciso que ele me levasse ao pronto socorro, alguns minutos depois eu comecei a voltar a respirar normal, confesso que essa atitude dele me deixou magoado, pois penso se fosse com ele eu agiria de imediato deixando tudo e dando prioridade a socorrer-lo. Hoje, eu não consigo guardar magoa disso, pois consegui superar, fiquei horas indagando se deveria ou não relatar este episódio mais depois senti que não deveria esconder nada de você leitor.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A DOENÇA

pg.01

Hoje me sentei de frente ao computador, e resolvi contar o que aconteceu comigo nesses quatro últimos anos.
Tudo começou no ano de 2004...
Neste ano eu estava muito feliz, pois tinha dois empregos e parecia que depois de tantos anos as coisas finalmente estavam dando certo para mim; comprei a casa dos meus sonhos, e tinha planos de comprar um carro em breve, mas como os nossos planos não são os planos de Deus, e quando agente pensa que felicidade é ter uma vida econômica estável, alguma coisa acontece para que saibamos que Deus é que tem que ser a prioridade nas nossas vidas (Buscai primeiro o Reino de Deus e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Mt 6.33), e foi então que tudo começou.
Lembro-me que estava voltando da escola em que trabalhava, quando um rapaz por nome de Nado, vizinho a mim, disse-me que eu estava muito magro, suas palavras serviram-me como um alerta, pois eu já estava me sentido realmente muito estranho, vivia com um cansaço extremo às vezes sem ter feito nada, foi então que comecei a perceber que estava urinando em excesso e perdendo peso rápido, as pernas doíam muito principalmente na panturrilha.
Achando que fosse falta de atividade física, inscrevi-me numa academia junto com meu amigos Nau e Dinho, mais o esforço que eu fazia parecia acelerar os sintomas, minha mãe achando que fosse fraqueza aconselhou-me a tomar umas vitaminas ejetáveis, e por algum tempo fique tomando injeções as quais eram aplicadas pelo Nau, que é enfermeiro. Mas não adiantou nada, eu piorava gradativamente.
Foi no mês de maio, mês das férias, que procurei um médico, para saber o que estava acontecendo. Nessa época eu já estava andando com dificuldade, tanto que Gil, minha esposa, é que me levou para a consulta. A médica Drª. Roseane, examenou-me e, meio sem jeito pediu para que eu fizesse um exame de sangue para HIV (Aids), eu prontamente aceitei, pois messes antes eu tinha doado sangue o qual detectou o vírus da Hepatite B e isso me dava à certeza que Aids eu não tinha.
Com o resultado do exame sendo negativo a médica me aconselhou a procurar um neurologista, pois ela não conseguiu detectar qual a doença que eu tinha. Os dias foram se passando e fui piorando, as dores nas pernas eram terríveis! Minha mãe pediu para que eu passasse um tempo na casa dela, pois assim podia cuidar de mim melhor. Fui então ao neurologista na Santa Casa de Maceió, este por sua vez ao me examinar disse que eu teria que fazer uma Pulsão ou seja, retirar o liquido da coluna, este exame foi muito caro, mas felizmente nós tínhamos umas economias guardadas e podemos pagar. O resultado saiu logo e não foi descoberto nada.
Já sem esperança na medicina, fui em busca de outros métodos para a cura da doença, viajei para a terra natal da Gil, Girau do Ponciano (próximo a Arapiraca), que segundo a minha sogra lá existia uma rezadeira que curava muita gente. A tal senhora rezou por mim, e me disse que eu teria que voltar pra lá durante sete sextas-feiras para fechar a cura. Não voltei mais lá. Conforme os dias iam passando eu piorava cada vez mais, afastei-me do trabalho, fui a outro neurologista onde o mesmo não deu a importância que a doença requeria, pelo contrario, ele chegou a dizer pra minha mãe que eu estava “valorizando” a doença, e sem nenhum exame aprofundado diagnosticou como sendo síndrome de Guilhan Barret, uma doença degenerativa onde eu iria ficar sem os movimentos do pescoço pra baixo, não me dando esperança nenhuma de cura.

Continua...