segunda-feira, 9 de julho de 2012

DESENGANADO

No dia seguinte fomos ao Hospital das Clínicas de Curitiba para fazer a consulta tão esperada. Fui atendido rapidamente apesar de existir uma multidão à ser atendida. Minha surpresa foi o médico que me atendeu, muito jovem; mas imaginei que eu estava sendo preconceituoso, talvez ele fosse especialista no meu caso.

Após olhar os exames que levei, ele me perguntou se eu morava em Maceió, respondi que sim, então olhou-me nos olhos e disse: “Você atravessou o Brasil pra nada...infelizmente sua doença não tem cura!”. Baixei a cabeça por um instante e olhei pro lado e vi uma lagrima rolar pelo rosto da minha querida Gil. Perguntei então ao doutor o que ele me sugeria? Sua resposta foi um balde de água fria nas minhas esperanças: “Volte pra casa”.

Saímos do consultório sem dá uma palavra, na rua, olhei pro céu e falei ao Senhor: “Deus, cresci ouvindo dizer que tu és o médico dos médicos e que quando o homem (médico) diz não ter mais jeito, tu Senhor vens e mostra o teu poder. Pois bem Senhor! A partir de hoje não correrei em busca de cura através dos homens, ponho minha vida e o meu futuro em tuas mãos, não vou me desesperar com o que vier a acontecer, afinal tu és o dono de tudo, foi tu Senhor que me puseste no mundo e é tu quem tem o poder de tirar; só sei de uma coisa vou fazer valer a pena cada minuto que me resta.” Nesse momento a Gil disse: vamos para o hotel, arrumar as malas e ir embora. Respondi: não minha querida...você não ouviu o que o médico falou? Ele acha que meu caso não tem mais jeito, isso quer dizer que eu vou morrer; pois bem, eu não morrerei sem antes conhecer Curitiba. Ela abriu aquele sorriso e disse: Só você mesmo!

quinta-feira, 12 de março de 2009

CURITIBA

Dois meses depois, deu-se por encerrado o tratamento com a radioterapia, o qual não foi eficaz. Em conversa com o médico perguntei se não havia outro tratamento, aqui em Maceió ou em outro centro mais desenvolvido; ele viu que eu desistira, e me indicou fazer um Tratamento Fora do Domicilio, precisamente no Hospital da Clinicas em São Paulo.
Novamente a Gil tomou a frente de tudo, primeiro foi ao órgão do governo que providenciava o tratamento, e depois saiu pedindo aos amigos, vizinhos e conhecidos que nos ajudasse financeiramente para essa viagem. Muita gente nos ajudou, pessoas que nem conhecíamos colaborou, rifas foram feitas, o pessoal tanto da igreja católica como evangélica ajudaram. Mas quando fui chamado para fazer o tratamento fora de Maceió veio a surpresa: não era para São Paulo, e sim para Curitiba que me enviaram. Assim mesmo ficamos felizes, pois estávamos indo para uma capital que era modelo em tudo para outras capitais, e quem sabe não era lá que estava minha cura.
Chegou o dia da viagem e estavamos com tudo preparado. O Pastor Antonio da IBB, entrou em contato com o pessoal da igreja batista de Curitiba e eles enviaram um rapaz para nos receber no aeroporto. Ao desembarcarmos na capital paranaense uma surpresa: Nossa bagagem ( inclusive a cadeira de rodas ) ficou em Salvador, onde o avião fizera conexão. Mas maior supresa foi minha reação, pois fiquei tranquilo e ouvi as explicações do representante da empresa aerea. Ele nos disse que nossa bagagem seguiria para o hotel onde ficariamos hospedos. Seguimos então para o saguão do aeroporto onde nos encontramos com o rapaz que nos esperava, o mesmo foi superatencioso e nos levou até o hotel ELO, ao ver o nome do hotel pensei que poderia ser um aviso; pois ELO é as inicias do meu nome: Edson Luis de Oliveira.
Surpertições de lado, as coisas estavam indo bem, o hotel era ótimo e o frio que penssavamos que estaria em Curitiba não houve e a noite as nossas bagagem chegaram, inclusive a cadeira de rodas.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A CONVERSÃO

pg.08

Após o diagnostico, o meu médico me indicou fazer um tratamento a base de radioterapia, para combater o tumor que se encontrava no osso do ilíaco direito. Antes disso eu ainda teria que ficar mais uns quinze dias interno, para me recuperar, pois a radioterapia é muito forte e eu iria sofrer muito com o tratamento.
Os dias se passaram e nada mudou, continuei do mesmo jeito. Até que tiveram que me dá alta assim mesmo, pois já fizera quarenta e dois dias que me encontrava no hospital, e meu caso já não poderia ser tratado lá. Voltei para casa.
Como foi bom sair daquele hospital, eu sabia que fora dele eu teria mais chances de piorar; mas era uma sensação maravilhosa ver a rua, o céu, os carros nas avenidas, pessoas apressadas indo de um lado pro outro. Ao chegar à casa muitas pessoas vieram me visitar; inclusive algumas pessoas da igreja quiseram rezar o terço. Durante as orações notei que a Gil estava apreensiva, e com um gesto perguntei o que estava acontecendo, ela balbuciando disse que o problema era com o Gustavo, que se encontrava com uma febre muito alta, esperei que as pessoas fossem embora e fui até a cama, e com a mão sobre sua cabeça fiz uma oração exigindo que aquela febre fosse embora no nome de Jesus. E logo a febre cessou as pessoas da família que presenciaram este fato, disseram que era apenas uma febre emocional, e que ao chegar perto dele a febre passou. Pode até ter sido uma febre emocional, mais eu creio que ela foi embora porque pronunciei o nome de Jesus. Afinal eu aprendi que o nome de Jesus tem poder, e foi crendo nisso que falei seu Nome.
No outro dia estávamos na Santa Casa de Maceió para começar-mos a radioterapia; eu digo começar-mos porque onde eu estava a Gil também estava e parecia que éramos um só, sofrendo tudo aquilo.
Entrei na sala e vi aquela imensa maquina onde me puseram, parecia que estava entrando numa nave espacial. Começou a seção de radioterapia, e não senti nada de anormal. Pensei comigo ”será que isso vai servi pra alguma coisa?”.Terminada a cessão, teríamos que ir três vezes por semana para continuar o tratamento. No dia seguinte comecei a sentir náuseas e ânsia de vomito. Diseram-me que era o efeito da radio; e que não me preocupa se. Quanto mais o tempo passava, mais eu piorava, por conta da situação que eu me encontrava ficava o dia todo na cama, comecei então a ler a Bíblia e assistir programas evangélicos na tv. Foi nessa época que começaram a freqüentar a minha casa, evangélicos de varias denominações, pediam para orar por mim e eu aceitava e os recebiam no meu quarto, pois já não conseguia sair da cama pra cadeira de rodas com tanta freqüência.
Numa dessas visitas entrou um grupo de uma igreja do bairro e conversaram bastante comigo, achei aquelas pessoas bastante sinceras, e mais, não notei no semblante deles um ar de pena para comigo como os outros faziam, Eles estavam ali de forma diferente, era como se tivessem convicção da minha melhora. Noutro dia um senhor que morava vizinho a nossa casa pediu pra falar comigo, mandei que o deixassem entrar, ele também era evangélico e queria orar por mim, eu prontamente aceitei. Ao termino da oração ele me perguntou se eu gostaria de aceitar Jesus como meu único e suficiente Salvador.
Durante a minha vida cristão-católica eu achava aquela pergunta um tanto pretensiosa. Achava que os crentes faziam esta pergunta para diminuir a religião católica. Mas naquele instante algo se tornou diferente, aquela pergunta entrou pelos meus ouvidos e foi parar no meu coração, a palavra único, tinha um significado sublime. Então entendi que não existe outro nome a quem eu deveria me submeter a não ser ao de Jesus. Respodi aquela pergunta com um sonoro SIM.
No dia seguinte minha mãe veio me visitar, sentou-se a beira de minha cama, conversamos um bocado, então resolvi dizer-lhe o que aconteceu; e meio que enrolando pedi que ela leva-se o quadro que se encontrava na parede da sala para casa dela. Ela então perguntou: O quadro de N.S. de Fátima? Eu respondi: sim ele mesmo. Nesse momento vi seu semblante mudar, era uma decepção muito grande pra ela, afinal, éramos orgulhosos de nossa religião, e não admitíamos que estávamos errados. De repente ela levantou-se e disse que não iria levar o quadro, e que eu estava fazendo isto porque estava doente. Procurei então não discutir e fiquei calado, mas ela sabia que eu estava decido e não iria mudar minha decisão.
Os fatos que se seguiram me deixaram muito triste as pessoas que eram próximas de mim afastaram-se, mesmo sabendo que eu me encontrava bastante doente e precisando delas. Parecia que elas admitiam qualquer coisa, menos que eu mudasse de religião. Isso era estranho para mim, pois eu não deixei de ser cristão e sim estava procurando ter um conhecimento maior de Jesus. Pois eu lia a Bíblia, e nela está escrito em João 14.6 “Eu sou o caminho a verdade, e a vida. Ninguém vem ao pai senão por mim.” Estas palavras e muitas outras, contradiziam com o que era pregado pelo padre na igreja e isto me deixava confuso. O Senhor Jesus estava sendo muito claro quando disse estas palavras; e esse foi um dos motivos que eu resolvi segui-lo. Claro que a doença fez com que eu me aproximasse mais dele, e hoje eu até agradeço a Deus por isso. Mas com certeza esse não foi o maior motivo. Eu creio que quando eu lia a Bíblia e comparava o que era dito pelo padre, ali já estava havendo uma mudança em minha vida.
Resolvi então procurar uma igreja evangélica a qual eu pudesse congregar, e lembrei daquele grupo que viera me visitar a alguns dias, decidi fazer uma visita à igreja deles. No domingo pedi que a Gil me arrumasse para irmos a Igreja Batista Betânia. Seguimos então eu, ela e o Gustavo, e ao entrarmos na igreja fomos recebidos com muito carinho pelos membros, e todos nos saudavam com “Graça e a Paz”. Senti-me tão bem naquele ambiente que decidi que era ali que eu ira congregar. Íamos esporadicamente a igreja, pois eu estava sempre debilitado e sem condições físicas de estar presente aos cultos.



C0ntinua...

sábado, 17 de janeiro de 2009

DE VOLTA A UTI

pg. 07

No dia 25 nada de tão importante aconteceu, devido a medicação eu passei o dia todo dormindo, mais a Gil me contou que na noite anterior ela tomou um baita susto e viu a realidade de estar na UTI de um hospital, um paciente faleceu ali perto, diante de seus olhos, mas nada disso nos abalava, pelo contrario, dava mais força para continuar-mos lutando, eu pela vida e ela por mim.
Passou-se o fim de semana e na segunda feira, fui transferido para o quarto, recebi visitas de varias pessoas, amigos preocupados comigo. Realmente quase que eu tinha ido, mas não foi daquela vez. O problema da respiração fraca continuava,e com o começo de pneumonia, o pulmão estava bastante comprometido. Foi solicitada a visita de um pneumologista para avaliar o meu caso; recordo-me que era noite de domingo quando ele veio me ver. Esse médico me fez perguntas, sem sequer chegar perto de mim; deixava transparecer que estava com medo de infecção ou coisa parecida. Disse-me que eu teria que fazer um exame chamado Broncoscopia, tentou me explicar o que seria isso; dizendo que iria introduzir um pequeno tubo em meu nariz, até o pulmão; lá chegando retiraria um fragmento ( pedaço) do pulmão para analise. Após esta explicação foi embora, e eu fiquei no quarto pensando “O que está faltando agora?”.
No dia seguinte ás cinco horas da manhã, entra no quarto o mesmo negão de sempre com a mesma pergunta “Senhor Edson?” “exame de sangue”. Surpreso com a sua chegada eu perguntei o porquê daquele exame e quem solicitara. Ele me respondeu que quem solicitou foi o pneumologista e que o exame era pra HIV. Isso me deixou irritado, pois ele não procurou saber o que eu tinha direito e já tinha tomado as suas próprias conclusões. Disse então que não ria fazer o exame e podia dizer ao tal médico que se eu tinha Aids, eu tinha pegado com a mãe dele; pois já tinha feito este exame varias vezes e nada foi constatado.O rapaz foi embora sem dizer nada, apenas balançou a cabeça de forma afirmativa.
Poucas horas depois vieram me buscar para fazer a tal Broncoscopia; ainda chateado com a atitude do médico disse que não iria fazer. A enfermeira chefe conversou comigo tentando me convencer a fazer o exame pois era pro meu bem, depois de muita insistência acabei cedendo e segui para a sala do exame.
Chegando a sala do exame notei que tudo era improvisado, e que não era o tal médico que iria fazer o exame, e sim sua esposa, que também era médica. Feito os procedimentos, ela introduziu um tubo na espessura de uma caneta em meu nariz, que consistia em levar uma microcamera até o meu pulmão. Até aí tudo bem, de repente ela retirou o tubo e resolveu colocar de novo; só que minhas narinas estavam obstruídas devido a pomada anestésica que ala tinha posto minutos antes, e ao tentar refazer todo o procedimento comecei a passar mal, e tive outra parada cardio-respiratória. Fui novamente levado a uti, mas dessa vez me recuperei rápido.
Muitas outras coisas aconteceram desde então, mas não esqueço os momentos terríveis que passei na uti; era como se cada vez que entrava e saia de lá , estava apenas adiando o inevitável. Mas duma coisa eu tinha certeza parecia que eu voltava com mais vontade de viver.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O NATAL

pg. 06

Era dia 24 de Dezembro, véspera de natal, e enfermeiros e médicos estavam preparando-se para a ceia ali mesmo, virei o rosto de lado para não ver a felicidade deles e acabei vendo uma poltrona larga e confortável ao meu lado... foi quando subitamente tive uma ideia chamei o médico plantonista Dr. Léo e disse-lhe nestas palavras: Doutor? O senhor já teve alguém que lhe amasse muito, mais muito mesmo? Uma pessoa que fosse capaz de tudo por você? Ele parou, pensou por um instante e respondeu: acho que não. Então continuei: Eu tenho... a minha esposa. Queria pedir-lhe que deixasse ela passar essa noite aqui, naquela poltrona. Ele então me falou: eu até poderia, mais ela não está aí, ela foi embora. Fiz um novo pedido: o senhor poderia me emprestar o seu celular para falar com ela? Ele prontamente atendeu.
Então ligamos pra Gil, o doutor segurando o celular para que eu falasse:
- Alô, nêga?
-Quem está falando? Disse ela.
-Sou eu. Respondi
- Edson! é você mesmo! Você saiu da UTI?
- Não, continuo aqui; é que liguei pra te dizer que se você quisesse poderia ficar aqui comigo o médico deixou.
-Ah! Então eu vou praí, e é agora!
- Não, não precisa, amanhã agente se vê.
- Chego já. E desligou o telefone.
Parece incrível que depois de tanto tempo ainda me lembro desse dialogo, mais foi exatamente assim. Meia hora depois ela estava ao meu lado. O Dr. Léo olhou fixamente para mim e disse: É verdade, Ela te ama mesmo!
Passamos a noite conversando, ela mais do que eu claro. Falou-me de muitas coisas, mais eu não prestava atenção, só pensava que Deus tinha me abençoado por ter uma mulher tão maravilhosa do meu lado e ao mesmo tempo agradecia muito a Ele por isso. Algumas horas depois ela cansou e adormeceu naquela poltrona. E olhando pra ela pensei “esse é o melhor natal da minha vida”.


Continua...